segunda-feira, 5 de julho de 2010

Entender.

Ela olhou pro que tinha acabado de escrever.
Era sobre aqueles assuntos que você não gasta tempo pensando, mas quando o assunto vem à tona, você lembra quanto tempo já gastou pensando nisso, e o quanto ainda tem pra falar sobre tal coisa, e aos poucos todas as teorias vão voltando. Algumas trazem risadas, outras trazem perguntas, outras ela simplesmente afasta da cabeça.

Era um poema. Eu estava do lado dela, lendo o poema com os olhos. Ela olhava pro poema, pra mim, pro poema. Imagino que ela estava tentando ler minhas expressões, pra saber o que eu ia responder antes de me pronunciar.

- Er... Hmn...

- Então?

"Então... então... então..." É, eu tinha alguns segundos pra ter uma opinião sobre algo que eu precisaria de dias e dias de conversa pra pegar todos os detalhes. Eu tinha entendido o contexto do poema, reparado na simetria, na falta de rimas, na repetição da palavra "face", mas não era isso que me interessava. O que eu queria, olhando pra ela, era falar algo diferente. O poema fazia um tipo de pergunta/desafio que eu queria responder pra ela, mas acho que ela não queria ouvir uma resposta. E eu mesmo tinha perguntas sobre o poema, mas que na verdade funcionariam mais pra entender ela... Deus, eu já tô até esquecendo o poema só pra tentar entender ela, quando na verdade o que ela deve estar querendo é que eu a esqueça e entenda o poema.

Não, ela não quer que eu a esqueça. Quando eu escrevo, eu não quero que esqueçam que atrás dessas palavras tem uma alma. (uma alma quase paranóica)

Olhei pra ela e respondi:

- Esse poema me deu uma ideia.

- É mesmo? Qual?

- Me empresta a caneta?

Peguei a caneta. E agora?
Se eu disser que esqueci o que ia escrever (porque, na verdade, eu não pensei em nada pra escrever) ela só vai se decepcionar. E, se eu depender dum improviso milagroso, provavelmente vai sair algo ruim. Não era bem uma situação pra improviso.

Tem uma alma por trás da caneta, por isso que não posso escrever qualquer coisa.

Putz, é isso!

- x -

Ela:

- Vai demorar?

- Ah, desculpa. É que não tô conseguindo fazer o que queria.

- Hmn... se você rabiscasse menos, talvez conseguisse.

Eu fiquei quieto... na verdade, pelo menos nos rabiscos, eu sei que acerto. Porque se rabisquei, é porque falei algo que não queria falar. Ou que não soava original. Ou que poderia ser entendido errado. E fazer poemas tem disso: fazer a parte difícil, pra que quem leia ache fácil ler. Olhei pra ela... deu até vontade de perguntar se ela passava pelo mesmo na hora que escrevia, ou se ela simplesmente escrevia.

- Hmn... daqui a cinco minutos tenho que ir.

Okay, cinco minutos. Droga, vou acabar escrevendo um "Hey, esqueça o tempo e fique aqui. Porque eu acredito em você, acredito na liberdade, em todas suas faces e preciso sempre de você"...

Nah, não é um poema de amor dela, não vou responder com um poema de amor. Mas só tenho cinco minutos, talvez agora sejam quatro.

- Droga, não era isso que eu queria dizer - cabei confessando, sem mais nem menos.

- E o que você queria dizer, então?

Olhei pra ela. Puta que pariu! Podia ser simples e eu dizer: Não queria dizer nada, queria era estar contigo mesmo.
Mas, novamente, depende do que ela quer. E nesse momento, ela quer saber o que eu queria dizer.

E eu tô mais na praia do "Tanto faz o que eu queria dizer" sem parecer que estava enrolando ela. Porque, sinceramente, tanto faz. Vou ficar agindo como um apaixonado do mesmo jeito, quieto ou falando.

- Acho que o que eu queria dizer era algo que você já ouviu.

E morreu nisso, sem eu saber se ela entendeu ou não.

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