segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Policial

Como alguém se torna policial? Da polícia militar?

A história dele pelo menos era essencialmente simples. Ele completou o ensino médio, prestou o concurso dois anos depois, conseguiu ser aprovado.

Era essa a resposta-padrão que Marion dava quando perguntado pelos outros.

Mas claro, ele também fazia essa pergunta pra si mesmo algumas vezes. Uma pergunta que todo mundo faz pra si mesmo, a não rara mas ainda profunda "como cheguei até aqui?".

E a resposta que ele dava pra si mesmo era bem diferente. Começava com ele novo, apanhando. Apanhando. E apanhando. Ele cresceu assim. Quando tava errado, eram os pais que batiam. Quando estava certo, eram os garotos burros da rua com raiva. E algumas vezes, apanhava por motivo nenhum. Apanhava até quando, sacaneando, nego chamava ele de Marião, por causa do nome de batismo dele. Ele ainda lembra disso. Isso ainda ressoa com a mesma pressão dos versos da roda de capoeira onde ele aprendeu a se defender.

"Não bate na criança
Que um dia a criança cresce
Quem bate não lembra
Mas quem apanha nunca esquece"

E ele foi aprendendo. Dormia pensando em meia-luas e martelos. Sonhava coisas adolescentes; garotas e vingança.

Marion foi crescendo, também.
Logo fez 16, logo entrou no ensino médio, na academia, nas rodas de cerveja. Conheceu mais gente. E agora, ao invés de apanhar, ele brigava. De igual pra igual.

Até o dia que viu uma arma. Não viu o tiro, só foi ameaçado por um muleque menor, mas que já estava envolvido com a criminalidade.

E Marion?

Marion descobriu então o que queria pro futuro dele.

Justiça. Assim que ele chamava isso que queria. Pra gente, podemos dizer que era uma arma mesmo.

Um ano depois, o mesmo muleque foi encontrado morto. Dívida com o tráfico.

Marion então soube em qual dos times armados ele queria jogar.

Rapaz inteligente e com vigor físico, tentou duas vezes o concurso ao terminar o ensino médio. Uma assim que acabou e outra dois anos depois. Passou na segunda.

Esse é o Marion. Defensor da justiça. Sentiu a dor na pele. Odeia valentões.

E ele encontrou, uma vez, o Dan.

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