domingo, 12 de setembro de 2010

A Situação

Era madrugada. O turno de Marion estava quase no fim. Últimas rodadas de carro pelo centro, só pra cumprir horário antes de bater o ponto e ir pra casa durmir. Em sua cidade, normalmente nessas horas nada acontecia. Cidade pequena metida a cidade grande, era assim a cidade onde Marion morava e vivera por toda sua vida. Não chegava a 50 mil habitantes, ainda se via cavalos e carroças dividindo a rua com Vectras e Sienas, ainda tinha uma tradição meio que de todo mundo conhecer todo mundo, ainda era uma roça asfaltada.

Marion estava na carona do carro com o braço apoiado na janela aberta, e ia observando as ruas por onde passavam todas as noites. Via o cinza da rua se mesclar com o amarelo das luzes dos postes, como sempre. Via as lojas; loja vazia, loja fechada, loja fechando. Via os bares; os bêbados conhecidos, cada vez mais parecendo cansados, não eram perigo algum.

Passando com o carro na frente dos becos sem saída, Marion foi encarando cada beco mal-iluminado. Quando acontecia alguma coisa pra Marion sair do carro, eram nesses becos.

Marion tinha até apelidado os becos... Um é o da chagas, outro o do reggae, outro era o da escola.

Pediu pro seu parceiro, quando chegaram na frente do primeiro beco:

- Rodrigo, reduz aí no chagas.

Haviam três garotos no beco das chagas. Marion não conhecia nenhum dos três. Não tinham mais do que 15 anos cada um deles.

- Encosta aí, Rodrigo. Isso não é hora dessa mulecada estar na rua.

Um dos garotos, o único com casaco, estava de pé. Os outros dois estavam sentados com as pernas cruzadas, como japoneses. Pareciam estar só conversando.

O carro parou. Marion saiu do carro, com a mão na arma pra impressionar.

O garoto de casaco o olhou.

E chutou com violência a barriga de um dos garotos sentados.

Essa é a situação.

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