sábado, 30 de outubro de 2010

Senna

Dela, eu conheço as curvas
Mas o caminho nunca é o mesmo
E sei que posso apertar os freios
Mas acelero em mais uma frase
Um pouco mais, talvez eu me ache
Um pouco mais, direto pro desastre

Um louco, mas... estou tão perto
Você faz os limites, eu os testo
Um verso a mais pode acabar com o poema
Mas é uma pena se eu não tentar
...

Uma pena, mesmo
Mas receio que tentei
E o verso não veio.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Se fosse só questão
De talvez, não ou sim
Mas meu dilema
É não saber te ajudar
E não querer te ver assim

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Durante uma festa...

- Que foi, cara? Porque você tá olhando pro nada, assim?

Hmn..

- Nada - digo pra ele. - É só que estou sentindo falta dela.

- Dela quem? Sua namorada?

- Nada. Quem dera fosse. Ela é só uma garota que gosto. Realmente gosto muito.

- x -

To who I SAW.
Minhas manhãs tem algo de parecido.

Mas só se eu consigo chegar antes da Ângela, pra poder abrir a biblioteca.
Ser o primeiro a abrir a biblioteca é legal. É ganhar o "bom-dia" especial da biblioteca. Uma lufada de ar geralmente quente, acompanhada de um cheiro de livro e poeira. É a baforada de quem acabou de acordar também e ainda não escovou nem os dentes. É uma sensação acolhedora, tão palpável que ultimamente tenho até respondido "bom-dia" de volta pra ela, baixinho.

Uma biblioteca, bem, é só uma biblioteca.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Bem e Mal, até onde sei.

Você já foi chamado de bonzinho?

"Sim, já fui"

Bem, bem, muito bem. Quando você ouviu isso, sentiu o estômago embrulhar?

"Hã? Porque sentiria?"

É, você talvez não tenha o porquê de sentir seu estômago embrulhar.

Isso geralmente acontece é comigo.

- x -

É que bem e mal, até onde sei, são diferentes do que tentaram me ensinar. Começa pelo fato de todos quererem arrumar uma definição prática e bem distinta pros dois. E no final, tentam e tentam definir e acabam caindo num ponto comum nojento, que é o "depende do ponto de vista". Quer um exemplo? Ok. Imagina um rapaz. Uma garota. E outro cara aí, namorado da garota. Clássico triângulo amoroso, com uma garota mal-amada, um rapaz apaixonado por essa garota, e um namorado que não quer perder a namorada.

Me ensinaram que todos são capazes de serem bondosos.
Seu desafio é arrumar uma solução onde os três personagens sejam bondosos aí, sem rolar suruba ou poligamia.

Se você arrumou, parabéns, você pode parar de ler isso aqui e sair pro mundo pra ser uma pessoa bondosa e salvar todo mundo.

Caso contrário, não se preocupe, talvez haja solução. Só não caia no marasmo do "depende do ponto de vista".

E caso contrário, acho que já dá pra você entender o porquê que ser "bonzinho" me dá um embrulho na barriga. Porque eu não sei nem definir bondade. Nem acredito nas definições de bondade que me ensinaram. Então, porra, como eu sou bonzinho? Eu nem sei definir maldade, além de duas coisas: evitar dar explicações; e essa outra coisa instintiva que reconheço na hora quando ligo a tv.

Deixa eu te pedir outra coisa?

Não caia no marasmo (sério mesmo!) do "depende do ponto de vista".

Porque isso não é fazer maldade nem bondade. É ainda pior. É evitar fazer ambos.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eu tinha, tu tinha, te...

Se eu disser que quero mudar o mundo... acho que estou enganando alguém.

Não sei quem. Não lembro com quantas pessoas falei isso.

E não sei quem. Porque ainda posso estar enganando a mim mesmo...

É que eu sacrifico minha liberdade por uma pessoa, mas não por um país.

Mas pra essa frase fazer tanto sentido e ser tão importante quanto deveria, eu tinha que ser famoso.

=/

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vilarejo

É, eu sei.
Desse vilarejo
Nesse momento
O que mais desejo
É encontrar minha cama
E dela, fazer meu reino
E descansar o dia inteiro.

domingo, 24 de outubro de 2010

Fable's Moral

There's a popular fable about a hummingbird and a forest fire. If you never heard about it, I'll resume it to you: A fire starts at the forest that the little hummingbird and a lot of animals lives. And all fucking animals runs from the fire, trying to survive. Except the hummingbird. The hummingbird flies to the lake next to the forest, and fills his bill with water and spread it on the fire, trying to stop it. So, an elephant notices what the hummingbird is doing and asks to him:

- Are you triyng to kill yourself? You'll never stop the fire!

- Yeah, I'now. But, at least, I'm doing my part.

Well, and you want to know what's the trully fable's moral?

The hummingbird wasn't trying to be an altruistic hero like everybody told me. He as just a selfish that was trying to keep his consciousness cleans. Like everyone.

And if you want, really want, to stop the forest fire, don't do it just to keep your consciousness clean.

sábado, 23 de outubro de 2010

03 de Outubro - Keep Fallin'

Quando o encontrei após subir as escadas, ele disse:

- Acho que você já sabe o que tá acontecendo, certo?

- Bombas, sei. Só que só sei os fatos, mas não sei os motivos. E cadê a Jess, D.? E cadê o resto do pessoal dessa casa?

- Ela não tá aqui agora não... - disse ele. Encarei-o , incrédulo... - Mas não se preocupe, ela já está voltando. - completou ele ao ver minha cara de "e o que você tá fazendo aqui, sozinho na casa dela e com ninguém em casa?"

- Hmn... e como você veio parar aqui, e no mais, ainda ficar aqui sozinho? - perguntei pra ele.

- É uma boa e longa história.

- E se você não se importa, espero que me conte ela. - respondi de imediato

- Não posso, ainda.

Olhei pra ele...

- D. , o que tá acontecendo?

Ele suspirou...

- Hmn... vejamos... você se lembra, há algum tempo, do Clube da Luta?

- Aham... - respondi

- Pois bem. Sabe que os objetivos deles sempre foram abalar a sociedade burguesa, certo? Usando táticas de, hmn..., como ela costuma dizer, de terrorismo poético.

- Tá, mas explodir bombas não tem nada de poético.

- Nisso eu discordo - ele disse. - Mas enfim...

- O Clube da Luta algumas vezes dava em merda... mas explodir bombas, num país inteiro..

- Mas enfim... - ele repetiu, me cortando - o Clube da Luta conseguiu a única coisa que faltava... se organizar pra fazer algo realmente capaz de chegar a sua máxima... abalar.

"A constituição tem uma brecha interessante. Ela prevê que se 50% das urnas sofrerem anulidades ( e convenhamos, explodir urnas eletrônicas é um modo de faze-lâs sofrerem anulidade) a eleição é cancelada. Só que a constituição não prevê o que acontece se até o dia da posse dos novos eleitos não tiver sido realizada nenhuma eleição.

Sabe o que isso significa?

Que o país fica nas mãos de ninguém."

- Mas não é isso que vai acontecer... seria bom demais se acontecesse assim, mas não é isso que vai acontecer.

- Eu sei. - D. falou - Mas eu não sei realmente a intenção verdadeira de quem organizou o pessoal dos Clubes da Luta pelo país inteiro. E na verdade, nem esperava que explodissem as bombas mesmo. Mas eles conseguiram.

- Como eles fizeram isso, D.?

- Você fica sozinho numa cabine pra votar. Já viu alguma medida de segurança, algum detector de metal? Então, eles aproveitaram essa falha.

- Tá, mas organizar tanta gente.. isso é quase impossível.

- É.

Houve então um silêncio meio constrangedor... eu olhei pra baixo, pensando.

Ele também.

- D., quem foi que explodiu as bombas aqui em Bom Jardim?

- Não posso dizer.

- Não foi ela, não né? Ela pode ser presa!

Ele só ficou quieto.

- Puta que paril! - exclamei. - E agora?

- Eu nunca soube como responder essa pergunta... espera que eu a responda agora?

- x -

Eu sei que esse final tá muito sem final, mas por enquanto (e provavelmente pra sempre) vai ficar assim. Sorry to all.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

De estimação

"Pai?"
"Oi, meu filho..."
"Você tá bem?"

Ele respondeu um rápido "estou". Ele não estava. Tava na cara que não estava.

E eu não queria que isso virasse história. Nem que pessoas tão reais virassem personagens.

Mas eu olhei pra ele e não consegui dizer nada. Posso dizer agora?

"Pai?"
"Que foi, meu filho?"
"Eu acho que alma existe."
"..."
"É que... ela, no final, só queria estar contigo. Ela gania, mas não era de dor. Era pra quando chegar a hora, estivesse contigo. E você esteve com ela, pai."
"..."

Alma existe, pai. Senão, não existiria motivo para neste momento eu achar esse seu gesto a coisa mais importante do mundo.


- x -

In Memoriam. A cachorra daqui de casa morreu hoje.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Meia coisa no ar, sabe?

É só propaganda, sabe?
(Quando você sabe
Pega meia coisa no ar)

É só questão de sorte, sabe?
(Mesmo que saiba
Meia coisa no ar)

E se você pudesse ver
O que todo mundo fala
Pensaria duas vezes
Antes de falar

É só ser diferente, sabe?
(Quando você sabe
Pega meia coisa no ar)

Meia coisa no ar
Tão simples e particular
Tão difícil de pegar.

E é só tédio, só agonia
Só propaganda, só piada repetida
Só solidão, só dia-a-dia
Só é tanta coisa parecida

Sabe?

Ultimamente

Tem gente que diz que sorte não existe.

Ultimamente, minha diversão tem sido ficar vendo os mentions no twitter para o PC e pro Felipe Neto. Pra saber como é ter várias pessoas falando contigo, comentando o que você diz... sabe, ser popular. Só pra ter uma ideia também do que as pessoas comentam e tentam falar com esses caras.

E, quando eu vi aquele trilhão de mentions aparecendo, não tem como não pensar nisso:

Caralho, até pro Felipe Neto ou o PC verem um mention seu, você precisa duma SORTE da porra. E estou te falando sério.

Você pode falar algo engraçado. Pode falar algo diferente. Pode xingar eles. Eles vão ver num tipo de "visão generalizada".

Quer ter uma ideia? Pega os videos de propagandas eleitorais antigos (principalmente pra deputados estaduais e vereadores) e vai revendo... qualquer pessoa liga a "visão generalizada" depois de cinco minutos de pessoas falando coisas parecidas.

E aposto uma empadinha que é assim que eles vêem os mentions. Tô até pensando em mandar um "largue seu emprego" de mention pra um deles. Do jeito que os mentions passam corridos, vai parecer até uma mensagem subliminar.

Pois é. Até pra dois sujeitos que dão considerável atenção pro seu público poderem ver uma mensagem sua, você precisa de sorte. E sorte pra caralho, alho alho.

E tem gente que diz que sorte não existe.

- x -

domingo, 10 de outubro de 2010

2006

Tardes Inspiradas

Por acaso já te contei
Que quando era pequeno
Eu via as sombras
E acreditava que eram anjos?
Que me perseguiam?
E que eu acreditava
Que o que eu sentia
Era exatamente o mesmo
Que todos sentiam?

Eu fico deitado na cama
Quieto ,sozinho, compondo
Pois quero tanto
Que você me deixe tonto
De tanto dizer que me ama

E nessas tardes inspiradas
Eu quero te encontrar
Quieta, sozinha, compondo.
Descrevendo o que sente uma fada
Fora de um conto.

- x -

sábado, 9 de outubro de 2010

Porque sinto que o dia
Era pra ser mais que isso?
Sair da cama é um desafio
Pra minha ousadia
Com calma, eu apuro os ouvidos
Daqui não vejo, só sou sentido
E o fluxo de tudo desvia
Sem deixar aviso.

Era pra ser mais que isso..
Se eu me sentir forte
Por favor, me acorde
A força também é um vicio
Se eu não me sentir vivo
Me lembre de ser forte
Pois é disso que preciso...

Confunda, aos poucos, meus sentidos
E se for silêncio, que se torne flor
E ver as flores mudarem de cor
E sentir as cores mudarem de sabor...

Compacto

Tenho em mãos três coisas.

Alguns versos da música All-Star, umas frases de uma guria pelo twitter e uma vontade estranha de juntar isso tudo e transformar em algo compacto.

Okay, pra vocês entenderem melhor...

All-Star é a música do Nando Reis, que começa com um "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você..."

E as frases da guria são as reações dela perante uma pergunta que ela achou num livro... "Porque você não pode ser a única coisa segura na minha vida?"

A música segue... "Até o doze que é o seu andar, não vejo a hora de te encontrar... e continuar aquela conversa... que não terminamos ontem..."

E na minha cabeça, já não consigo mais imaginar um jeito de juntar isso tudo. Só consigo imaginar ela agora deitada na cama dela, de pijama de criança (ela tem cara de quem ainda usa pijamas infantis, com ursinhos e flores e etc...), com os fios dourados caindo pelas bordas da cama. Ela tem 17 anos, e aos 17, ainda parece um anjo.

É, eu sei que vou ter que mudar alguma coisa. Daqui a pouco ela acorda, e ainda vai parecer um anjo, mas com os olhos de vidro. Esses olhos de vidro, vidrados em alguém, não conseguem me ver. Se eu também às vezes não tivesse esses olhos de vidro, eu mesmo não entenderia.

Tenho que mudar alguma coisa.

Seu olhar não vai mudar. Minha roupa não vai mudar seu olhar. Nem minhas ideias. Nem meus pedidos.
(mas fique comigo, me faça compania, por favor.)

Vou mudar a música que tá tocando mesmo.

Talvez com um pouco de Ultraje a Rigor ela já não pareça mais um anjo.

domingo, 3 de outubro de 2010

Não é sobre futebol, também.

Tô do lado de fora do estádio
Não deixaram eu entrar
Cheguei no pior horário
Aquele que com os portões fechados
Você vê sujeitos selecionados
Podendo passar.

Já era, né, reclamar do quê?
É ficar na torcida
Porque democracia
Não é escolher
É torcer, torcer
Reclamar do quê?
Isso é a vida
E poderia ser pior.

Tem gente na torcida
Que está lá cantando
Só por ter um canto
Pra poder sossegar
Eu tô na torcida
Na parte da vida
De ficar esperando

Tem gente na torcida
Que está lá cantando
Só por ter um canto
E eu tô na torcida
Torcendo pra torcida
Invadir o campo

Eu tô na torcida
Lá embaixo
O jogo acontece
Lá embaixo
Nada que me interesse

Eu olho pro lado
Tem uma torcedora
Com olhos esverdeados

Uma torcedora
Cujos olhos
Minha vida repousa

E eu só quero ficar ali
Apesar do zero no placar
Eu puxo a torcedora
Chamo ela pra comemorar

O jogo lá embaixo
Continua, nua, nua...

03 de Outubro.

- x -


"Conselho que eu ouvi darem a um jovem: 'Faça sempre o que você tem medo de fazer.' "
Ralph Waldo Emerson

- x -


- Ué, o que tá acontecendo? - perguntou uma velhinha encurvada, enquanto olhava pr'quele mar de gente curiosa.

- "Num" sei - resmungou alguém perto da velhinha.

- Deve ter sido briga - sugeriram de supetão.

A velhinha só acompanhava a cena. Em torno da Escola Estadual CIEP 322, um aglomerado de gente se espremia, galgando posições pra verem alguma coisa. Ela observou mais um pouco aquilo; Viu o cinza da calçada, as caras desconfiadas, ouviu de longe a barulhada dessa juventude babaca e logo ficou entediada. Não tinha ninguém ali que ela conhecesse pra perguntar, então não adiantava ficar ali parada. A velhinha deu um suspiro, falando baixinha "é, vou entrar que é o melhor que faço"... E como é de costume, ninguém ouviu ela.

Que azar da velhinha! Cabou perdendo o melhor da cena, tadinha! Ela entrou em casa e...

E explodiram uma bomba no CIEP 322.

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Lá estava eu na Sniper, pra variar. (aliás, pra quem não conhece, a Sniper é uma Lan House daqui de BJ)

Eu tinha acabado de chegar, a loja estava quase vazia, tirando um sujeito usando a internet que eu não conhecia e o Suel jogando o ps3, enquanto não tinha ninguém pra atender. A TV estava ligada, e passava nela uma das bobeiras de sempre da eleição.

- É Suel... esse seu patrão escravocrata é foda ein. Mandou você abrir a loja até no dia da eleição?

Suel me olhou com uma cara meio puta.

- Não falo nada, rapá. Se acha que eu estaria aqui atôa? O Eduardo tá pagando como se fosse hora extra.

Pensei em responder "É, tio patinhas, depois que você arrumou namorada agora tá gastando e precisando de grana, né?", mas não compensava provocar o cara assim. Enquanto eu pensava em qualquer outra coisa pra dizer, cabei só falando "É..."

Foi quando apareceu o Nec lá na Sniper, de camisa social e com a cara vermelha, suando. Ele chegou do jeito espalhafatoso dele, como se fosse o dono da Sniper.

- Mulecada, "cês" não vão acreditar.

- Fala, Nec. - cumprimentei ele. Suel só olhou pra cara dele.

- Explodiu uma bomba aqui em Bom Jardim! Lá no Ramiro.

- Larga de ser caôzero, Nec! - Suel retrucou.

- Tô te falando sério! Suel, pra quê diabos eu mentiria sobre isso, cara?!

- Aham, tá Nec. - respondeu Suel virando os olhos pra cima, com desdém.

Eu não tirava a razão do Suel naquele momento. Nec era um mentiroso de marca maior, acreditar nele era como escrever "eu sou trouxa" na testa.

Mas o destino parece que adora pregar certas peças. Estava eu mentalmente duvidando do Nec, quando tocou a musiquinha do Plantão Globo na TV. Olhei pra TV, Suel também.

"Atentado terrorista no Rio de Janeiro... Uma bomba, de pequeno porte, explodiu numa zona eleitoral do bairro Botafogo... um eleitor que estava na urna no momento sofreu ferimentos leves de queimaduras..."

- Caralho! - saiu em uníssono o que eu, Nec e Suel falamos.

A musiquinha então tocou novamente.

"Estamos aqui em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e acabamos de receber a notícia de um atentado..."

Dessa vez só o Nec falou, em alto tom:

- Eu falei, eu falei, porra! Que doideira! Nego tá explodindo tudo!

- Não é possível... - Suel falou, pegando o controle.

Ele foi mudando os canais, um por um.

"Recebemos agora a notícia que foi houve uma explosão..."

"Em Gyn, no estado de Goiás, acaba de..."

"Não dá pra acreditar! A urna de..."

Suel parou de mudar de canal quando chegou no Datena, na Band, que comentava indignado: "Isso é um ataque à toda sociedade brasileira! Nem a democracia podemos exercer em paz nesse país!"

- Cara, vamos lá ver o que há no Ramiro, Nec? - eu disse.

- Ah, agora se tá acreditando em mim, né? Ué, e cadê o 'Larga de ser caôzero, Nec'?!

- Vamos lá ou não vamos?

- Vai você, ué. Quando eu falei... - E enquanto o Nec ia falando, justificando ser o dono da verdade, eu falei um "volto já" e sai a passos apressados da Sniper, com a cabeça a mil.

Desci as escadas da Sniper correndo, pensando em chegar lá rápido. Pela primeira vez na minha vida, estava vivenciando algum movimento de revolução, ou anti-revolução, ou seja lá o que fosse aquilo. E mesmo que eu não pudesse fazer nada, porque parecia ser algo muito maior (já que envolvia o país inteiro) aquele sentimento de emergência que fica encarcerado na maior parte do tempo finalmente tinha arrumado um motivo pra ser verdadeiro.

Eu ia descendo as escadas sabendo que não tinha o que fazer.

Mas sabia que melhor momento que esse pra fazer algo importante eu não teria.

Melhor momento que esse, não.

- x -

Encontrei com o Bernardo na entrada do prédio da Sniper, quando terminei de descer a escadaria.

- Indo aonde, champz? - ele perguntou.

- Lá no Ramiro.

- Fazer o que lá?

- Descobrir uma coisa.

- Ih, pronto... pirou de vez. Que que houve, ô comédia?

- Relaxa, que já volto já. Depois te explico.

Continuei andando, deixando Bernardo lá parado, com cara de "hã?".

Segui andando. Atravessei a rua quase deserta, e fui seguindo em frente, até a ladeira que era caminho pro Ramiro. Parei na frente da ladeira, e minha própria voz ecoou na minha cabeça: "É, tá, eu vou no Ramiro, e daí? Que vou fazer lá?"
Não tinha muito o que fazer lá. Ia provavelmente ter policiais lá, se realmente explodiu uma bomba, e pensando bem, eu já não vou muito com a cara da polícia, nem ela com a minha, se eles decidem me chamar de anarquista lá e me levarem, até eu explicar que focinho de porco não é tomada...

Anarquista... a palavra ressoou de novo no meu pensamento.

Foi quando eu lembrei dela.

É, eu não tinha que ir no Ramiro. Tinha que ir na casa dela. Ela falou que não sairia de casa hoje, e não tem pessoa melhor pra saber sobre isso do que ela.

Mudei meu rumo, ignorei a ladeira e segui em frente, até chegar na esquina do final da rua. Virei à direita na esquina e desci pela rua levemente inclinada que tem lá.

Cheguei na frente da casa dela, e como sempre acontece quando eu chegava na frente da casa dela, de início a voz faltou. Enchi o peito de ar. Chamei ela.

Uma vez. Duas. Três. Ela não estava em casa, pelo jeito.

Sentei na calçada, na frente da casa dela. E agora?

Depois de cinco minutos, descobri que não adiantava ficar lá sentado. Gritei ela mais uma vez, na esperança, mas não adiantou. Levantei... e quando fui andando, dois passos depois, ouvi um "espera".

Engraçado, porque não era a voz dela. Mas eu reconheci de quem era a voz.

- Você tá sozinho? - ele perguntou, ao aparecer da sacada da casa dela.

- Aham.

- Sobe aqui.

- x -


Continua...