terça-feira, 18 de janeiro de 2011

- Rapá - ele virou o resto do copo de cerveja dele - um poema serve pra tudo. Tudo. Esse pessoal fica acusando a poesia de ter morrido... "Morreu, já não serve pra nada". Se chegou ao ponto de servir por uma causa só, não é um poema, é argumento.

- Hmn... - virei o resto do meu copo também.

- Quer um exemplo? Vê só a tragédia que aconteceu lá na Região Serrana. Acabou com tudo, encheu de lama a merda toda. E enquanto o pessoal trabalhava, você acha que quais palavras consolariam eles? Poemas novos, falando inteiramente sobre a tragédia? Ou versos já conhecidos, agora com outro significado?

- Sei não. Depende de cada um, não?

- Não, não depende. Essa é a única generalização que me permito fazer: Todos precisam de algum "para sempre" e "para tudo". O álcool trás isso de vez em quando, o amor trás por um preço muito alto e a poesia está lá, significando tudo que pode.

Olhei pra ele... ele soluçou e perguntou: "Entende?"

Não respondi, mas entendi. Legião, eu ouvi Tempo Perdido essa noite.

"Nosso suor sagrado... é bem mais belo que este sangue amargo." nunca tinha feito tanto sentido.

E até criei um personagem, só pra falar sobre isso.

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