quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um dia normal aos 27

Hoje eu vi o arco-íris. Amanhecia. Ainda bem, que apesar dos pesares, não associei ainda arco-íris com aliança com Deus, com homossexualidade, com gnomos e potes de ouro, nem nada disso. Pra mim, era só um arco-íris. Eu vi o arco-íris e tive vontade de beber.

Não tinha nada a perder, fui. Enquanto andava (Deus, deixe algum bar aberto), não resisti: imaginei ela acordando.

Ela deve levantar, ir no banheiro. Provavelmente vomitar lá, ou fazer aquelas coisas de mulheres grávidas. Então irá até a cozinha, lerá o recado que deixei: "Fui beber, LF". Bem, ela ainda estará com raiva, eu acho. Vai rasgar o papel, ou ignorá-lo completamente. Duvido que ela entenda que isso tem a ver com o fato de que ando triste: ela vai pensar na tristeza dela primeiro. Chorar talvez? Não sei. Acho que sim. Chorar e ligar pra mãe dela. Talvez ela sinta vontade de beber também e colocar nosso filho em risco. Mas ela vai resistir: nesse momento ela vai não quer se parecer comigo, e por sorte, consegui associar a ideia de que beber tem a ver comigo. Mas com certeza ela vai passar a mão em sua própria barriga, sentir aquela criaturazinha no ventre, pensar em alguma coisa a ver com beleza, e talvez chorar.

Não consigo imaginar o resto. Nem preciso, aliás: chego ao bar. Como uma piada de Deus, ele está fechado.

Sento na calçada. Quero não pensar em nada, mas não resisto: penso em voltar. Talvez ela me veja e atire umas facas com raiva. Talvez ela esteja dormindo, aí eu esconderia o bilhete e voltaria pro sofá.

Ainda quero beber. É uma merda chegar aos 27 e ser despedido. Ainda quero beber. Levanto e... volto pra casa dela. Não vou contar o que acontece quando eu chego: afinal, é só um dia normal, cara.

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