domingo, 11 de julho de 2010

É claro, você não pode enviar armas pelo correio.

"Correio!"

Ser carteiro. Ô trabalinho difícil rapá. Trabalho ingrato. Envolve chamar pessoas desconhecidas na casa delas e esperar ser atendido. Lidar com pessoas desconhecidas sempre é difícil. Tenho um amigo que trabalha com isso, e o raimundos que tocava no rádio naquele momento me lembra esse amigo. Lucca é foda.Em homenagem, vamos fazer de conta que o carteiro que entrega a carta nesse momento é o Lucca.

Mas só que o personagem principal da história não é o meu amigo carteiro. É o rapaz que o atendeu à porta.

Ele usava óculos de grau, tinha o cabelo curto, ao estilo militar, daqueles cortes que você raspa a cabeça e cinco ou seis meses depois ele ainda está baixinho, se recompondo do crime. Não dá pra realçar alguma característica do rosto dele, nem da sua estatura.

Aparentemente, era um cara normal, disfarçável, fácil de esquecer ou confundir.

Aparentemente só.

Ah, lembrei de uma característica desse rapaz. Ele tinha olheiras profundas, não tinha durmido direito. Isso, aliás,e vocês vão descobrir, já dizia muito sobre a personalidade dele.

Esse carinha não tinha durmido porque passou a noite com a consciência pesada.

Pesada do quê?

Ah, isso é fácil de responder. Eram as mesmas preocupações de sempre. Significado das coisas. Futuro. Tédio. Hipocrisia... essas coisas que sempre afligem as pessoas que gastam mais tempo pensando que agindo.

- Correio!

Era uma caixa marrom, do tamanho duma caixa de sapato. Lucca pediu a assinatura do rapaz e reparou nos mesmo detalhes do rosto dele que eu acabei de descrever. Só que Lucca é um cara boa praça, naturalmente preocupado com as pessoas, e disse:

- Hey cara, você não me parece legal... tá tudo bem?

- Hmn... está, está sim. - mentiu o rapaz.

Lucca era um cara legal. Ele sabia que era mentira do rapaz, mas sabia também que se o rapaz quisesse dizer o que lhe afligia, teria dito. Então não precisava insistir.

- Obrigado. - disse cordialmente o rapaz, depois de ter assinado e entregado a Lucca a prancheta que fica as assinaturas.

Lucca entregou nele o pacote.

- Que isso, cara. Valeu. - disse simpaticamente Lucca e se foi. Afinal, Lucca tem que continuar com seu serviço.

O rapaz entrou pra casa dele (ou seja lá onde estiver morando, república, apartamente, ponte, whatever) e foi abrir o pacote, sem muita curiosidade. Era pesado. Ele não esperava nada, não conhecia o remetente, mas também não tava ansioso.

Tinha duas coisas... uma carta e um punhal.

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