quinta-feira, 1 de julho de 2010

Getting Mad

Ele moveu as mãos..
Devagar...
E olhou pra elas.

Riu sozinho... (quanto menos você pensa, mais você ri, ele pensou.)

E viu que era sangue na mão dele...

...

Quando ela o viu, ele estava sentado na beirada da calçada que fica na frente da casa dela, sentado com as mãos vermelhas segurando a cabeça, olhando pra baixo.

- Fernando! Que você tá fazendo aqui?
- Hã? Ahhh... oi!
- Meu Deus Fernando! O que te aconteceu!? Isso é sangue!?

Ele riu de novo ao ouvir isso.

- Ah, tô bem, não é? Você não gosta de sangue?

Ele disse isso e mostrou as mãos nela. Depois tentou abraça-lá; ela não rejeitou o abraço, apenas deixou ele... Quando ele encostou o rosto dele ao lado do rosto dela, ela pode sentir o cheiro do bafo dele:

- Meu Deus... você bebeu?

Ele olhou pra ela, o olhar desfocou.
Ele abraçou ela de novo e respondeu:

- Talvez... mas... Meu Deus??? Você nem acredita em Deus!
- Fernando, isso é só força de expressão, não mude de assunto. O que aconteceu contigo? - Ela disse isso, empurrando ele sutilmente pra afastá-lo e olhar pro rosto dele.

- Eu... eu...
- Você tá sangrando... e MUITO! Você precisa ir num posto de saúde ou no hospital ver isso!
- Não! - ele falou, a voz tomando um perigoso tom de quase-choro... - Não me leva pra hospital nenhum, por favor... me leva pra sua casa.
- Fernando, você tá bêbado, por favor me escuta...
- Oi - ele disse, encostando o rosto no próprio ombro.

Ela pegou os ombros dele, sacudiu de leve pra tentar capturar a atenção dele, e falou com o tom mais imperativo que podia. ( naturalmente, ela não era boa em ser imperativa. Não gostava de nada imperativo. Mas com bêbados, esse era o único recurso dela)

- Fernando, me escuta. Vou te levar pra um hospital agora, ok?

Ele olhou pra ela. Ela teve a impressão de um por momento ver um flash de consciência passar por entre aqueles olhos castanhos escuros...

- Você não vai fazer isso. - disse ele.
- Mas Fernando, você...
- Você não vai fazer isso. Se você me ama, você não vai fazer isso. - ele falou, soando sério e até eloquente demais pra alguém embriagado.
- Fernando...

- Você me ama?

Ela chegou num impasse, do ponto de vista dele. E do ponto de vista dela, ela só queria tirar ele dali, porque achava que ele só tava falando nada com nada porque tinha bebido e se machucado... Resultou nisso:

- Amo sim, por isso vou te levar no hospital, ok?
- Não!

Ele segurou ela e colocou a cabeça no ombro dela. Ela prendeu a respiração, apreensiva... conhecia ele bem demais, sabia que ele não faria mal, mas naquele momento, não estava tão segura assim.

- Não, não, não... não faz isso... - a voz dele parecia embargada, e quando ela ouviu uma fungada, puxou ele e levantou o rosto dele...

- Fernando... você está... chorando?

Ela nem precisava ter perguntado... os olhos recém-avermelhados e a lágrima que escapava do olho direito dele falavam por si.

- É que... é que... eu... - ele disse, parou, olhando pra ela, e ela só esperou, apesar da mudez desconfortável. - Eu... eu sempre imaginei que ia ouvir que você me ama de um jeito diferente.

- Meu Deus do Céu, Fernando, dá pra você parar com isso? - dessa vez, a voz dela que tinha ganho um tom de pré-choro urgente.

- Tá, tá... vamos falar então de... política! Então, vou votar nulo, você também, pronto. Falamos de política.

A voz dele, meio sarcástica, meio embargada, fez ela fazer uma careta de reprovação.

- Okay, me desculpa... desculpa, desculpa, desculpa. - ele disse, e seguiu dizendo desculpa até que ela falou:

- Fernando, chega!

- Cheguei - ele respondeu. Ela se limitou a fuzilá-lo com o olhar.

Houve então silêncio. Bem, quase silêncio. Ele ainda fungava e limpava os olhos com o nó dos dedos. E ela, impassível, não sabia se chamava alguém pra levá-lo pro hospital, se cedia e o levava pra casa dela pra poder limpar o ferimento da cabeça dele ( que ainda sangrava e isso assustava ela) ou se simplesmente ameaçava deixá-lo ali pra ele sossegar.

- Hey... desculpa. Agora é sério. - ele disse, e continuou. - Me desculpa... é que eu só sei falar de amor. Não queria nem ter começado esse post, essa história, e essa coisa toda pra falar de amor. Mas...

Mas eu simplesmente preciso arrumar um jeito ouvir esse "Amo sim" sem ter que beber demais e machucar a cabeça.

=)

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