sábado, 22 de setembro de 2012

Desconstruindo o mito do "Voto Consciente"


É ano de eleição. E como todo ano de eleição, temos além das campanhas dos candidatos, a campanha (normalmente governamental) do Voto Consciente. Afinal, o que é exatamente voto consciente?

Se você tem preguiça de questionar coisas que considere óbvias, sugiro que pare por aqui. Esse texto não é pra você. Obrigado.

Não sei se existe bem uma definição para voto consciente, mas as maiorias das campanhas e discussões sobre voto consciente são pautadas em cima de dois argumentos principais:

a) não venda o voto;
b) vote em um candidato que você conheça a história/propostas.

Até aí tudo bem, tudo bonitinho, politicamente correto, perfeito pra ser apresentado em palestras demagógicas e coisas do tipo. Bonitinho demais... e aí que mora o problema. Essa "boniteza" toda na verdade tem como objetivo te distanciar da política do que te aproximar dela. Faça um teste quando tiver tempo: pergunte nos seus amigos, parentes, pais e professores em como eles se comportam durante 4 anos quando o político que eles votaram perderam as eleições (supondo que eles tenham votado conscientes). Eles, por força dessa propaganda, ficam com a consciência limpa. E sabe o que isso acarreta? Eles deixam de lado sua participação política em troca dessa consciência limpa. Uma coisa como "ah, fiz o que pude, posso fazer o quê se o povo é burro e elegeu fulano? Eu votei em siclano... se fosse siclano, a história seria diferente..."

Preste atenção na maioria das campanhas para voto consciente: quase todas elas fazem uma chantagem psicológica do tipo "se você vender o voto pra beltrano, como você vai poder exigir algo dele depois?" As campanhas simplesmente te amarram ao candidato que você votou. Porque elas fazem esta chantagem psicológica? 

Para entender melhor, imagine a seguinte situação: estourou canos na rua onde você mora. Está vazando esgoto pela rua toda, o cheiro está incomodando, e corre o risco de atrair animais como ratos e baratas. Você tem que fazer contato com o poder público pra poder exigir que seja resolvido o problema... Mas você na eleição passada não votou naquele candidato, e sim no candidato que perdeu. O que você vai fazer? Ficar em casa não vai resolver nada, certo? Você não iria lá exigir (mesmo que não fosse atendido) que fossem tomadas providências, praticamente do mesmo jeito como se tivesse votado no fulano?

Esse é o quê da questão. Se você vai (ou ao menos deveria) se comportar exatamente antes e depois das eleições, qual a função real do "voto consciente"? Facilitador de tomadas de decisões? Não me leva a mal, mas é arrogância demais acreditar que uma necessidade será atendida por causa de um "eu votei em você, você me deve isso". A chantagem psicológica é de via única, baby.

O que sobra, então? Eu não sei porque, mas sempre que ouço campanhas da festa da democracia, elas me soam mais como "agora que você votou, sai daqui e não encha mais o saco!". A quantidade de propaganda que eles fazem em cima do dia da eleição e sobre a importância da mesma segue bem o roteiro de "Como tratar conselheiros", do livro "O Príncipe", de Maquiavel. Mantém alguns conselheiros por perto, consulta quando quer (e não aceita nunca que os conselheiros deêm palpites sem terem sido consultados) e às vezes faz um agrado. E adivinha: você não é o príncipe, você é um dos conselheiros que são usados. Não só você, nesse momento, eu também, e provavelmente muita gente que você conheça. Bem à margem das decisões reais.

Ainda seguindo a linha maquiavélica: imagine que um grupo de conselheiros tenha decidido que precisam intervir nisto. Eles precisam ser ouvidos! (assim como no exemplo acima, do cano estourado) O que eles têm que fazer? Você no fundo, sabe a resposta.... pressionar o príncipe. Insistir, através de todos os meios, até dobrar a vontade do príncipe.

Trazendo isto pra vida real: o que você tem que fazer? votar consciente?

Ou ignorar o teatro que é a eleição e começar a pressionar os caras que foram eleitos, para que eles te escutem?

Ou falando mais bonito: começar a fazer política de verdade?

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