sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desabafo futuro de minha futura esposa

Olha só amor, eu já tentei te dizer, mas tenho medo que se você realmente me ouvir, vá ficar se culpando e fazer sabe-se lá o quê com si mesmo. Eu... eu não sei. E é esse o problema. Você vive me perguntando : "Tem algo errado?" ... Não sei como te dizer. O que há de errado é essa pergunta... você insiste tanto nela, nessa paranóia, que até me contamina. Porque você algumas vezes fica triste e escreve aqueles poemas lindos dizendo que faria tudo por mim, mas que não sabe o que fazer... Só que eu também não sei o que fazer pra te deixar feliz. Entende? Você não é o único que sente dúvidas em relação a um milhão de coisas, isso também me ataca e muito. Por exemplo, quando você vira e diz "Mas pra eu ser feliz, só preciso estar ao seu lado." eu na hora acredito, mas depois começo a duvidar disso. Se você só precisa disso pra ser feliz, porque fica tão decepcionado quando me mostra um poema e eu te digo "ficou bom, querido!" ? Uma vez, em um momento sincero seu, você me confessou que algumas vezes sentia uma certa dependência por elogios... que se não dissessem que o você escrevia tinha valor, você entrava numa depressão, num vazio enorme. E o problema é que você tem essa dependência também por mim, como se eu fosse uma droga. Só que no final das contas, isso sempre faz mais mal do que bem. E eu já não sei se você me ama ou se é obsessão. Não tá muito certo. E cada vez mais, eu sinto medo disso tudo. Algumas vezes você não me parece sincero, você transmite essa impressão, como se soubesse de algo que quer me esconder pra não me magoar. Mas exige que eu sempre divida tudo, perguntando "Tem algo errado?". Eu... queria que as coisas fossem mais simples. Mas você torna tudo tão profundo, tão intricado, tão complicado, que... não sei explicar melhor do que isso. Eu quero tanto acreditar nos seus poemas quando você escreve "Quando tudo dá errado, o inesperado acontece." Mas... não é isso que sinto. Sinto muito.

-x-

Respondendo perguntas antecipadas: First of all, não, isso não é auto-biográfico, isso ainda não me aconteceu. É que uma maneira boba que eu tenho de me auto-criticar é imaginar alguém importante pra mim me criticando. Segundo, não, eu não tenho nenhuma esposa em mente... Só imaginei uma personalidade frágil, do tipo de moça que tenta ser simpática e amistosa mesmo nas mais adversas situações. Terceiro, eu sei que isso pode me acontecer, não com essas palavras exatas, mas com a mesma intenção, porque eu coloquei quase todos meus defeitos ali em cima. Paranóia, insistência, etc... E se eu lesse um desabafo desse de verdade, eu tentaria me defender. Em vão. Porque, óbvio, se eu consegui imaginar algo assim antes, eu sei que quem escreveu teria razão.

Só me resta torcer, eu acho.

"Eu sei, é tudo sem sentido
Quero ter alguém com quem conversar
Alguém que depois
Não use o que eu disse
Contra mim " - trecho de Andrea Doria, da LEGIÃO URBANA.

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