segunda-feira, 12 de abril de 2010

A parte mais divertida desse fim de semana.

Existem pessoas que não gostam de lembrar das coisas. E pra balancear, claro, existem aqueles que só ficam se lembrando com saudade do que passou...

E pra completar a cena, eu sempre faço de conta que estou me equilibrando nos dois extremos...

Sempre...

Me equilibrando entre o real e o imaginário.

Entre o que posso e não posso.

Entre o que devo falar e o que não devo.

Até nos pensamentos... no até onde devo te tentar te entender e até que ponto devo apenas me explicar.

E entre o real e o imaginário, eu prometi (sem dizer nenhuma palavra) que um dia escreveria tudo aquilo que observava em você.

-x-

- A vantagem de fazer personagens - eu dizia pra ela - é que você pode evitar que as coisas saiam erradas. Dá pra fazer perfeitamente com que os personagens sintam o que precisam sentir naquele momento, e falem o que devem falar e entendam do certo jeito o que você quis dizer. Se eu fizesse um personagem baseado em você, por exemplo, você diria coisas que provavelmente você seria capaz de dizer na vida real, entende? Coisas que você já deve ter pensado, imaginado.
Só que eu não conseguiria na vida real uma situação assim pra você dizer essas coisas...
Por isso que gosto de criar os personagens... pra te mostrar que eu já imaginei a cena de um jeito diferente.

Ela apenas ouvia o que eu dizia... eu estava deitado no colo dela, e fitava os olhos castanhos dela enquanto falava. A mão distraída dela bagunçava meu cabelo. Eu tentava reparar em qualquer sinal no rosto dela, em cada vibração do olhar, em cada respiração... O que a boca às vezes não diz, o corpo sinaliza.

Ela estava pensando, pelo jeito... nem sei se ela realmente ouviu tudo que eu disse, parecia entretida...

- Estranho.- Ela cabou dizendo.

- É... - concordei, desviando os olhos dela pra olhar a paisagem. Quando ameacei me perder em pensamentos, ela falou:

- Você é estranho, sabia?

Dei um sorriso, breve. E voltei a olhar pra ela...

- Porque você acha isso? - respondi com outra pergunta

Dessa vez, ela quem desviou o olhar pra longe... e sem olhar pra mim, foi falando.

- Hmn... você é diferente das pessoas que estou acostumada... não dá pra explicar direito... - A voz dela foi sumindo... e se recuperou depois que ela tomou fôlego e virou os olhos pra mim. - E porquê as coisas tem que ser do jeito que você imaginou? Porque não podem, por exemplo, serem do jeito que eu imagino?

A pergunta me surpreendeu... Analisei a expressão dela... eu já tinha visto ela irritada,pensativa, sorridente, calma, inexpressiva e até mesmo já tinha visto ela cochilando... Mas a expressão dela mudara pra algo que não reconheci... Como se fosse uma curiosidade genuína, sem segundas intenções.

- Podem também... só que pra isso, você vai ter que escrever também... ou então, dizer pra mim o que pensa.

- Não foi isso que eu quis dizer, e você entendeu.

Me calei... e olhei pra ela...

Ela disse:

- Olha só... você fica me olhando assim... Não estou acostumada com isso.

-Ah, desculpa... não é por mal, é que estou prestando atenção nas suas reações.

- Pois é, só que isso dá a impressão de outra coisa...

Mudei repentinamente de assunto:

- E como as coisas seriam se fossem do seu jeito?

- Não sei. - ela respondeu. - Não fico realmente me preocupando com isso... Porque sei que é perda de tempo. Isso só faz você se decepcionar com as pessoas, isso é meio que esperar demais das pessoas... Eu, pelo menos, gosto de evitar a decepção quando posso.

Fiquei pensando numa resposta... queria discordar dela, mas não podia.

Ela pareceu incomodada com o silêncio meu, e mudou de assunto:

- Sabe, não fui criada com muito carinho... Meus pais se separaram quando eu era nova, e eu fiquei com a mamãe... e pra ela me criar, tinha que trabalhar, né? E eu ficava em casa, sozinha com meu irmão. Só quando fiz 9 anos, que fui começar a conviver com papai,a visitar ele na casa dele, e mamãe começou a ter mais tempo pra passar comigo e com meu irmão...

Ela deu uma pausa, e respirou devagar, olhando pra mim.

- Viu? Sou diferente de você... por isso que pra mim é difícil entender essas suas expressões. - ela falou.

- Liga não. - cabei dizendo. Os olhos dela estavam úmidos. - É que sou um carente nato... que nem todo poeta tem que ser.

Ela riu quando eu disse isso, com uma expressão de alívio.

- Hey... se um dia você fizer uma personagem minha, você promete que vai mostrar?

- Prometo. - eu disse rindo...

Ela olhou pra mim...

E eu disse pra ela:

- Me faz uma promessa também?

- Qual?

- Que se um dia você se apaixonar por mim, você vai me dizer.

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